Foto: A Ascenção para o Paraíso Celestial, Hieronymus Bosch.
Olá leitores deste blog, queria hoje eu compartilhar um pouco com vocês de um livro que eu estou lendo, trata-se do "O Nascimento do Purgatório" do historiador medievalista francês do século XX, Jacques Le Goff, membro da chamada "Escola dos Annales", esta que certamente voltarei aqui para falar mais sobre.
Foto: Jacques Le Goff em sua casa.
Le Goff, inspirado em Lucien Febvre e Marc Bloch(também medievalistas), criadores da chamada "Escola dos Annales", queria buscar um novo conceito para a História, e foi o que ele chamou de Nova História; Essa tinha como objetivo mudar de vez o conceito de História que "vigorava" até então que era a "Escola Metódica", chamada também de Positivista, onde se colocava a História como estudo do tempo passado.
Através desta perspectiva de Nova História, Le Goff escreveu vários livros sobre a Idade Média, com o objetivo de acabar com a visão Metódica, influenciada pelo Iluminismo, de que o período Medievo foi um período de Trevas e Ignorância em que viveu o mundo e a sociedade. E um desta série de livros se encontra "O Nascimento do Purgatório" que é o que veremos hoje nesta postagem.
Le Goff, abre o livro com duas frases de suma importância que - em si - "resumirá" a sua obra:
"O Purgatório, que grande coisa!" - Santa Catarina de Gênova
"O Purgatório ultrapassa em poesia o céu e o inferno, porquanto representa um futuro que falta aos dois primeiros" - Chateaubriand
Com isso Le Goff, lembra de início que o Purgatório em si sempre existiu, vai inclusive buscar provas disso na Bíblia e nos povos da Mesopotâmia e aponta a necessidade da cristandade em ter o Purgatório consolidado na Idade Média para encontrar a salvação eterna. Para concluir esta pequena apresentação do livro, vou deixar que o Grande Le Goff resuma em suas palavras o mesmo:
"Desde sempre os cristãos acreditaram, de um modo confuso, na possibilidade de remir certos pecados depois da morte. Mas, no sistema dualista do além, entre Inferno e Paraíso, não havia lugar para o cumprimento das penas do Purgatório. Foi preciso esperar pelo fim do século XII para que surgisse a palavra Purgatório, para que o Purgatório se tornasse um terceiro lugar do além numa nova geografia do outro mundo. Foi em Paris, no ultimo terço do século XII, na escola episcopal de Notre-Dame, em contato com a escolástica emergente liderada por São Thomas de Aquino e com o pensamento cisterciense, que surgiu a nova forma de crença. Ela situa-se numa "revolução" mental e social que substitui os sistemas dualistas por sistemas que fazem intervir a noção de intermediário e que esquematizam a vida espiritual. Esse Purgatório é também o triunfo do julgamento individual no seio de novas relações entre vivos e os mortos.
A inserção durante muito tempo lenta e aleatória de um além intermediário entre o Inferno e o Paraíso, depois do seu desabrochar como elemento capital da nova sociedade e da nova ideologia que se colocam no limiar do mundo moderno ocidental por volta do século XIII, é um dos grandes episódios da história espiritual e social do Ocidente." - Jacques Le Goff